LEITURA NA ESCOLA COMO FONTE DE PRAZER E/OU DE INFORMAÇÃO?
A escola, espaço que convencionamos como sendo específico e privilegiado do saber, no que se refere à leitura, precisa rever suas práticas, diante de leituras impostas em salas de aulas onde faz imperar um dualismo: de um lado algumas escolas que, ao pretenderem uma rápida atualização com o presente, assimilam o novo sem a devida reflexão utilizando inadequadamente instrumentos modernos de ensino e tornando seus leitores passivos diante de imagens postas. Em contraposição, outras escolas utilizam textos fragmentados de manuais didáticos como único meio auxiliar para a leitura, objetivando o trabalho de unidades curriculares como mera fixação e memorização de conteúdos, quase sempre aleatórias à realidade dos alunos.
Esta antinomia existente em tais práticas de leitura estão longe de resgatar a história do conhecimento humano, de estimular o pensamento ou induzir o aluno ao prazer em ler.
Neste sentido, esta ambigüidade da prática educativa tornam os alunos alheios a realidade que os circundam, tornando-os vulneráveis a dominação de uma minoria que pensa e se mantêm bem informados. Parte-se então do pressuposto que a prática da leitura significa a possibilidade de domínio através de um instrumento de poder, chamado linguagem formal, pois é desta forma que estão escritas as leis que regem nosso país, e assim perceber os direitos que se tem, o direito das elites que, com um discurso ideológico em prol da liberdade e da justiça, os mantêm na condição de detentores do Poder
Manter grande parte da população escolar perto do alcance desta linguagem formal, este é o grande desafio, a fim de que, com uma visão crítica e reflexiva e através do discernimento, não se permita a perpetuação de sua condição de dominados.
Assim, a leitura como prática social faz a diferença para aqueles que dominam, tornando-os distintos cultural e socialmente.
Faz-se necessário que as escolas revejam as condições restritas impostas ao ensino da leitura. Entretanto mudar as condições de produção da leitura na escola não significa apenas alterar os instrumentos de sua codificação e decodificação, vai muito mais além:
Conforme Paulo Freire (1997, p. 11):
“(...) o ato de ler não se esgota da decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra (...) linguagem e realidade se prendem dinamicamente.”
Exige-se da escola, principalmente, o redimensionamento de todo o trabalho educativo que engloba: ousadia, seleção de materiais variados, espaço para socialização, respeito a opiniões divergentes, enfim novas propostas de trabalhos pedagógicos com leituras críticas e variadas.
Reafirmamos que o exercício e prática da leitura transcendem ao uso de materiais como meios auxiliares de ensino, empregados como modismos em sala de aula ou como atividade ligada a lição e a intenção didática instrucional.
Além da leitura como informação e, conseqüentemente, como fonte de acesso ao conhecimento e ao poder , o mais importante é a capacidade de se aliar isso ao prazer e entretenimento, pois é de se deduzir, por essa linha de pensamento que, a contrário sensu, o prazer na prática da leitura levará automaticamente o leitor ao conhecimento.
Assim, a leitura singular dos livros didáticos devem ceder espaço aos livros de literatura infantil, jornais, revistas, gibis, bulas de remédios, receitas caseiras, etc., que fazem parte dos objetos de uso cotidiano, articulado a uma leitura significativa e, portanto, compreensiva e mais agradável como processo pedagógico.
Leitura é conhecimento, e o conhecimento é um processo de construção em que o protagonista é o aluno.Com essa ideologia na prática pedagógica, poderá se propor nas escolas alternativas de promoção de leitura, objetivando despertar o interesse e a vontade de ler por parte dos alunos através, por exemplo, das seguintes atividades:
a) Substituição dos livros didáticos por livros de literatura;
b) Dramatizações com a participação dos alunos;
c) Atividades com ORIGAMI, arte japonesa que constitui na dobradura artística de papéis, criando personagens das histórias;
d) Manipulação de argila e construção de maquetes, fundamentados na releitura das histórias;
e) Realização de atividades com bulas de remédios. Com a troca de informações, experiências e conselhos;
f) Criação de caixinhas de remédios e elaboração de bulas com base em algum medicamento natural conhecido;
g) Exploração de receitas culinárias;
h) Trabalho com jornais;
i) Leitura de histórias em quadrinhos:
As histórias em quadrinhos têm um efeito surpreendente como mecanismo de incentivo à leitura. Tais histórias atraem os alunos pela identificação que estes fazem com alguns personagens, semelhante ao mundo fático. A fantasia transforma a leitura em modalidade de ensino e de prazer.
j) Feira de leitura com exposição de livros artesanais construídos pelos próprios alunos.
A realização destas atividades pedagógicas poderá estimular nos alunos a vontade e o prazer da leitura.
Há muito a se discutir, refletir e pesquisar para que se consiga concretizar de maneira efetiva, nas salas de aula, esta audaciosa proposta de desenvolvimento humano e social através da leitura. Para isso, se faz necessário uma mudança na postura dos educadores e também da consciência de quem desenvolve ações educativas em sala de aula, exigirá a quebra de alguns paradigmas no processo educativo.
Trata-se de um primeiro passo e de um grande desafio: romper barreiras para melhor ensinar, visando, sobretudo, uma educação que permita ao aluno o exercício pleno de sua cidadania e o seu desenvolvimento como pessoa humana através do hábito de ler, não apenas como fonte de conhecimento, mas também como informação e prazer!
JACQUELINE SATURNINO VIERA
ACADÊMICA EM PEDAGOGIA PELA UNEAL, EDUCADORA DO MPDC E DINAMIZADORA DO PROGRAMA BAÚ DE LEITURA.